Em meio ao tatame e amamentação, Camila venceu competição 48 dias após parto de gêmeos

Douradense vive o emaranhado de emoções de ser mãe e atleta


A judoca douradense Camila Gebara Nogueira Yamakawa, de 28 anos, é uma das atletas mais premiadas de Mato Grosso do Sul e, dentre os seus feitos na carreira, recentemente fez um dos mais especiais: venceu o campeonato brasileiro regional apenas 48 dias após o parto de gêmeos.

Camila tem três filhos com o esposo e técnico, Jorge Yamakawa, e há uma coincidência entre eles, Ali, o primogênito de 3 anos, e os gêmeos recém-nascidos, Ayla e Akira, estiveram no pódio com a mãe ainda muito pequenos.


Três meses após dar à luz ao primeiro filho, a atleta de MS conquistou o ouro no Campeonato Brasileiro de Judô em Santa Catarina, em 2019. E não para por aí, o feito ocorreu após a recuperação de uma cirurgia no joelho, que coincidiu com o período da gestação.

Dessa vez, os bebês acompanharam a mãe no campeonato realizado em Brasília, onde ela conquistou uma medalha e dois troféus. Nas redes socias, Camila comemorou: “48 dias pós-parto dos meus gêmeos pude voltar pra onde passei a maior parte da minha vida, em cima do tatame”.

Para quem pensa que a judoca, que já conquistou mais de 200 medalhas durante a carreira teve um treino específico para competir, negativo. A partir das 22 semanas de gestação, Camila precisou fazer repouso absoluto e os pequenos nasceram com 37 semanas. 

“Eu nunca fiquei muito tempo parada, principalmente a musculação. Foi essa a minha dúvida se eu retornava ou não porque eu fiquei quase 4 meses sem musculação e eu sentia e sinto que eu tô muito fraca ainda, principalmente de força, de músculo”, relata Camila.

Após o parto normal e a liberação do médico, a atleta e o esposo decidiram que ela iria se inscrever no Campeonato Brasileiro de Judô Região IV 2023, em Brasília, ocorrido nos dias 1 e 2 de abril, mas só disputaria se tivesse confortável.

Já na Capital do país, o espírito competitivo da atleta falou mais alto e ela subiu no tatame para trazer mais uma vitória para o Mato Grosso do Sul, dessa vez, na categoria Sênior, acima de 21 anos, + 78 kg.

A judoca conta que teve três lutas no mesmo dia e o ritmo acelerado que enfrentou, “eu fiquei o dia inteiro amamentando, atuando como técnica, correndo pra lá e pra cá e ainda fui competir. E atrasou muito a competição, fui fazer minha última luta 23h”.

Na competição, Gebara atuou como técnica de cerca de 10 alunos. Para conciliar as lutas, o apoio aos seus atletas e o cuidado com os bebês, ela comenta que precisou de uma rede de apoio, formada pelas mães das suas alunas.

“Todo mundo me ajudou, as minhas atletas, as mães que foram me ajudaram. Por isso que eu falo que sem eles nada seria possível porque sábado praticamente eu não conseguia dar atenção para os meus filhos”, relata Camila.

A atleta conta ainda que a sua maior preocupação em relação a competir tendo três filhos pequenos, é o medo de se lesionar, “hoje não é igual antigamente, que se lesionava, ficava paradinha, não tinha nada pra fazer, hoje eu tenho mais compromissos além do judô”.

Questionada se em algum momento a ‘culpa de mãe’ apareceu, a voz de Camila embargou e as lágrimas caíram no mesmo momento. Emocionada, ela contou sobre o emaranhado de emoções que vivencia por amar estar no tatame, mas também a necessidade de se doar aos filhos.

“Eu tinha aquela preocupação em saber se eles estavam bem, eu não conseguia ver eles toda hora, aí vem aquela parte de mãe: meu Deus o que eu to fazendo com meus filhos de um mês dentro de um ônibus, me sacrificando, colocando eles nesse meio por pouca coisa”, relembra.

Ela ainda relembra um momento de culpa vivenciado pouco tempo antes de lutar, “comecei a chorar desesperada porque trouxeram meu filho chorando. É difícil a gente querer tudo, mas eu sei que é uma fase, que vai passar”.

Camila conta que o psicológico foi o mais trabalhoso nesta competição e que, apesar dos questionamentos, sempre pensa “uma mente feliz, é um corpo feliz e eu sei que a minha felicidade está no tatame, está em competir”.

Carreira no Judô

Camila deu os primeiros passos na luta ao acaso na infância, com apenas três anos, para se ocupar enquanto os pais praticavam outros esportes. A partir de então, a menina pegou gosto pelo judô, não saiu mais do tatame, começou a competir com 11 anos e se tornou uma referênciano Brasil.

“Me tornei muito competitiva e não parei mais”, comenta Gerara, relembrando o primeiro mundial disputado na Ucrânia, quando tinha cerca de 17 anos. Lá, a atleta douradense conseguiu atingir o nono lugar na competição.

Em 2016, a judoca foi a última a conduzir a tocha olímpica e marcou o fim do revezamento em Dourados com o acendimento da pira instalada na Praça Antônio João. Ela também chegou a se preparar para disputar vagas para as Olimpíadas de Paris, em 2024, fato não mais cogitado.

Devido ao seu alto desempenho no esporte, a judoca teve inúmeras chances de sair de Dourados, mas os laços familiares a fizeram ficar em terras sul-mato-grossenses, constituir família e continuar atuando no esporte, principalmente no papel de técnica.

Atleta do Exército Brasileiro e da Seleção Brasileira de Judô, Camila diz que não sonha mais com um mundial, até mesmo por conta da idade e das lesões sofridas durante a carreira, “já tenho na minha cabeça que não vou voltar mais para uma olimpíada, um mundial, mas quero me manter bem dentro no nível nacional”. 

 

Jessica Beatriz

douradosnews



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